2014-12-11

Há uma suspeita de HIV

(excerto da primeira parte de O Segundo Armário, Diário de um Jovem Soroposito; descarregue o ebook grátis... aqui)

Sempre fiz teste de HIV, e sempre me cuidei. O preservativo foi e ainda é (agora mais do que antes) algo essencial na minha vida. Muitas vezes aconteceram acidentes que me fizeram sentir como se tivesse sido infectado pelo vírus... camisinha estourar, ocorrer sangramento na hora H. Nesses momentos sempre ligava ao Pablo, por também ter passado por situações semelhantes. Às vezes culpava esses comportamentos associando os mesmos ao fato de eu ser homossexual e gostar de uma boa putaria. Sei que esta história de HIV e homossexualidade já deu o que tinha que dar, e sei de todo aquele blá-blá-blá politicamente correto – AIDS não é coisa de homossexual, mas de desprevenidos. 

Pois bem, foi no mês de abril! Numa tarde de segunda-feira, aguardando um resultado que nunca saía, na tentativa de me acalmar, pensava nas inúmeras vezes que os resultados se atrasavam e sempre lia: “Não Reagente”. Nossa! Sempre foi um alívio! Parecia que toda a culpa da carne estava perdoada, sem nenhuma penitência a ser paga a não ser intensificar o cuidado e prevenir-me, cada vez mais, dali para a frente. 
Este abril de 2011 foi diferente. Recebo a ligação do médico (fiz o teste num consultório particular)... “você precisa vir aqui e colher uma nova amostra pois faltou alguma sorologia!”  

   Eu já sabia que no Brasil, quando um resultado dá positivo, o laboratório é obrigado a refazer o exame com uma nova amostra a fim de evitar resultados equivocados. Esta ligação deixou-me louco. Pablo ligou-me nesse momento. Num desespero contei-lhe o que estava acontecendo. Este talvez tenha sido meu maior acerto dos últimos tempos – preciso e precisarei muito de seu apoio. Imediatamente peguei o metrô e fui ao médico. Ele estava saindo de seu consultório, agarrou meu braço e falou ainda na rua: “Há uma suspeita de HIV, mas pode ficar tranquilo que você pode jogar bola e viver feliz.” Se eu tivesse uma bola naquele momento jogaria na cabeça dele. Além de despreparado, era cego. Deixei o médico e fui ao laboratório fazer o novo exame. Enquanto esperava que a técnica de enfermagem me chamasse, lágrimas escorriam dos meus olhos, desespero e incerteza adentravam-se pelo meu ser. Estava sozinho na sala de espera quando ela me chamou para o exame. Saí de lá com a certeza de que estava infetado e fui para a praça General Osório, em Ipanema. Lágrimas e cigarros. Sem saber o que fazer, para quem ligar, se iria contar a alguém, a quem; no regresso a casa, desnorteado, desço num shopping. Dou uma volta com a intenção de comprar óculos escuros, como se fosse capaz de resolver todos meus problemas disfarçando meus olhos chorosos. 

   Uma semana depois, os resultados das duas amostras: 
   “Amostra reagente para HIV I”


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 em língua portuguesa a preços baixos.

2 comentários:

  1. Se já havia interesse, ele aumentou agora...

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    1. Sim, é um livro muito interessante, e esperamos que possa ajudar quem atravessa problemas terríveis como o do Gabriel.

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